Parte de “O Verde Livro Tosco”
Você vinha
Como quem
Não vinha
Beijando-me
Sem boca
Alito, língua
Saliva
Tentei te abraçar
Mas era feita
De fumaça
Me senti
Romântico e bobo
Acho que sofri
Meu coração de pomba
Sacoleja solitário
No grande espaço
Da minha caixa
Torácica
Victor Viana @VianaBuzios
Não posso afirmar que houve-se um repudio ao Romantismo, mas talvez um desinteresse consciente. Digo consciente, porque éramos todos ligados a Barra de São João, e na maioria crescemos em torno da estatua de Casimiro de Abreu que fica na praça que leva o nome de um de seus poemas “ As Primaveras”. E por sermos muito jovens o Romantismo ( talvez nem tanto os poemas) chamava a atenção pela vida de busca por aventura, mistérios e amores....afinal esses poetas eram na maioria também adolescentes como nós.
Mas se gostávamos não expressávamos, e assim criticávamos. E virávamos as costas, não totalmente srrsrs. Eu adorava escrever poemas como esse, onde brincava com o Romantismo. È um desafio escrever em português sobre amor sem traços de romantismo, é quase uma vaidade. Aqui é clara a influencia de Drumond e sua poesia calcada no tédio da vida. A vida de um jovem na Região dos Lagos na quele tempo ( ao menos a minha) era meio tediosa, um grande inverno sem grandes divertimentos, poucas mulheres disponíveis e uma sofrida espera pelo verão redentor que trazia mulheres em massa, na maioria superficiais, alem de apurrinhantes festas regadas a Axé Music e Funk Carioca. Isso legitima o tédio amoroso desse poema. As meninas que chegavam e despertavam tanto furor juvenil no coração e no sangue, logo partiam para suas cidades, e ficamos nós tentando encontrar alguém que preenchesse o vazio grande de um peito com um pequeno coração de pomba dentro.